01/02/09

Acontecimentos Espaciais e Narrativos


«Até a própria cidade tinha dois centros de gravidade: o pólo real e o pólo magnético da sua personalidade; e entre os dois, o temperamento dos habitantes dissolvia-se e esgotava-se em vãs descargas eléctricas…O primeiro simboliza, para mim, as grandes conquistas do homem nos domínios da matéria, do espaço e do tempo…; o outro não era um símbolo mas o limbo vivo do livre arbítrio…Nós somos os filhos da paisagem em que vivemos; é ela que traça o nosso comportamento e até os nossos pensamentos, na medida em que nos influência»
Lawrence Durrel in Quarteto de Alexandria 1 –Justine p.43 e 45



O contraponto referido em “As cidades invisíveis” de Italo Calvino foi o mote de base para a minha intervenção que se consubstanciou numa unidade espacial onde existe um contraste visível. Por um lado, entre a ortogonalidade patente nas fachadas (e até nos cubos que serviam de material para a intervenção) versus uma obliquidade da intervenção criada, por outro entre as relações altimétricas que se estabelecem e que permitem visões antagónicas do espaço (uma ampla e global: aberta; outra, intimista e limitada: profunda).



Este contraste assumido é no entanto complementar como o é o, aparente, antagonismo entre a altura da nova “construção” e a profundidade do espaço que se prolonga subterraneamente aí, através de paredes paralelas e perpendiculares, como prolongamento da visão da fachada “contrariamente” à obtusidade da subida. E se escolhermos entrar através do subsolo pela entrada central teremos uma estranha e interessante ilusão óptica de que a construção nos está a cair em cima.




Assim, também aquilo que se acrescenta ou se subtrai faz parte da mesma unidade que, através da contradição de si mesma, enquanto espaço de procura de uma visão, primeiro, intimista e profunda, por forma a poder ascender à visão global, rasgada, àquela que permite “tudo ver do alto” numa perspectiva quase divina.
Mesmo a dualidade “vazio/cheio (devido à imponência da construção quase monobloquica) é assumida por também ela fazer parte da unidade espacial que pretendi criar e que traduz diversas distribuições espaciais.


A “torre oblíqua” é quase toda ela maciça, fechada sobre o seu espaço limitado de ascese ao mundo da luz e da visão, é toda ela escavada em material maciço e nela sobressaem as escadas (em que se criou um padrão de subida em que predomina uma regularidade geométrica na orientação dos lances de escadas ora para a direita ora para a esquerda formando um padrão que se repete na subida, e se enquadra na regularidade envolvente das janelas das fachadas adjacentes.
Por fim atingimos (à cota dos 12 metros) o “mundo da plena visão” de onde aberturas diferentes nos permitem olhar para todos os lados, numa visão multilateral e plurifacetada deste espaço e da sua envolvente.

Esta unidade espacial é assim formada por diferentes relações altimétricas de um contraste centrado num fechamento/intimista do espaço que se enclausura sobre si próprio com uma subida para a “abertura” que permite uma visão global, ampla, plurifacetada da realidade que dela faz parte mas também da sua envolvente que integrei na minha intervenção espacial.

«Afinal os romanos eram
como eu: amavam
os lugares onde a grandeza
e a solidão
andam de mãos dadas.»
Eugénio de Andrade in Escrita da Terra p.30
Trabalho realizado no ambito da disciplina de Arquitectura 1 da universidade luisiada de Lisboa,tema 3 ano lectivo 2007/2008

Há tantas realidades quantas nós podermos imaginar

Conceito: Leitura-Interpretação-Transferencia
Figura: Acontecimentos espaciais


Este trabalho teve como ponto de partida para um conceito o filme de Alfred Hitchcook, a Janela Indiscreta e como base para a transferencia desse conceito para acontecimentos espaciais, uma sala de aula um cubo laminar e um cubo maciço.

"Há tantas realidades quantas nós podermos imaginar"
caletoscopio Lawrence Durrel in Quarteto de Alexandria 2- Baltasar p 169


Nesta unidade espacial existem varios espaços interligados por umas escadas. Existem em dois dos espaços caracterizados pelas suas aberturas que condicionam a luminusidade consoante o grau de interioridade do espaço.





"A nossa perspectiva da realidade é condicionada pela nossa posição no espaço e no tempo, e não pela nossa personalidade como geralmente se crê. Assim, cada interpretação da realidade baseia-se sobre uma posição única. Dois passos para leste ou para oeste e o quadro muda inteiramente."
Lawrence Durrel in Quarteto de Alexandria 2- Baltasar p13

Trabalho realizado no tema2 no 1ºano de Arquitectura. Ano lectivo 2007/08

Largo de São mamede

Largo de São Mamede em Lisboa



Largo circular, de calçada portuguesa irregular, de pedras angulosas e fracturadas.



É nesta envolvencia cénica, no largo as penumbras projectadas torna este espaço um palco de um teatro de sombras.
A materialidade do local vê-se nas relações entre o espaço e os elementos que se perfilam no largo. A harmonia entre os vários intervenientes vai-se configurando nas relações entre eles.

A realização do modelo em arame(s) procura expressar, através do material escolhido, a irregularidade e angulosidade fragmentada deste espaço (o largo) que domina a centralidade desta interpretação. Também a escolha de diversos tipos de arame reflecte as varias mutações de luz.



Por outro lado, na realização de um modelo em k-line procuro ser mais pragmática, trabalhando apenas a nível da volumetria e das texturas.



Sobre a casa

Não há senão a casa viva do olhar
à beira do crepusculo
não há senão
a vereda quase triste das palavras.
Eugénio de Andrade


Trabalho utilizado no tema1 do 1ºano de Arquitectura 2007/08