13/07/09

Construção de um lugar

"O ignorante absoluto o imóvel nómada
no imponderável acorde da deriva da terra

com as velas do sangue voltadas para o mar
na incendiada inércia da sombra como um fruto
ouve o único canto que nunca se repete
...
A sua lucidez é o abandono às marés sem margem
e a sua sabedoria uma distracção que conduz ao centro"
António de Ramos Rosa in Delta seguido pela Primeira Vez


A minha intervenção surge a partir da análise do lugar - pátio do Centro Cultural de Belém (CCB) e integrando as suas qualidades intrínsecas identifiquei dois planos altimétricos diferentes interceptados por um muro.
Estes dois níveis têm características diferentes. O nível superior apresenta uma linearidade e o inferior é um local privilegiado, ponto central para onde são conduzidos todos os planos envolventes, um local repleto de acessos e de variadas entradas de luz.








Neste espaço deparei-me com a presença de um eixo e a minha intervenção começa pela intenção de criar uma estrutura espacial transversal a este eixo, conduzindo-nos para um ponto de convergência no espaço que adquire um carácter próprio que se materializa como um prolongamento das obras que expõe temporariamente.
Neste contexto a escultura de Rui Chafes é retirada à sua “paisagem natural” (e à sua interacção através da audição com o observador) e readquire uma nova característica a de se constituir como meio privilegiado para posicionar este observador levando-o a ver o quadro de Paula Rego de diferentes perspectivas.



È a riqueza destas diferentes perspectivas (leituras quase visões diferentes das personagens do quadro de Paula Rego) que surgem desta estrutura espacial transversal que liga dois planos fazendo-os convergir para um ponto central - o quadro “O ensaio”.



Esta visão singular a partir de uma escultura “As horas de Chumbo” que converge num ponto e que permite descontextualizar a obra de arte do lugar onde temporariamente de insere e nos permite apreciá-la como um jogo formal situada numa intervenção espacial que procura criar um espaço expositivo contínuo que através de ligações (rampas e escadas) une sucessivamente três níveis altimétricos conformando um itinerário linear e horizontal de ligação das duas obras num espaço de átrio de um museu transmitindo-lhes no entanto alguma introspecção e recolhimento.





Esta intervenção pretende de uma forma simples e discreta criar um espaço de tranquilidade em que a luz apenas aparece para valorizar as obras e nos leva a criar espaços quase privados de reflexão e refúgio mas de perspectivas que determinam um profundo e intenso questionamento sugerido pelas próprias obras de arte.


Trabalho desenvolvido na disciplina de Arquitectura 1, tema 5 na Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Luisada de Lisboa,2007.2008

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