16/07/09

Espaço Sombra-Água-Vento-Movimento

A minha intervenção no pontão da Doca Pesca Lisboa surge como resposta a uma particularidade do local. Por um lado a necessidade de se relacionar com vários armazéns/fabricas de peixe da malha urbana que crescem em direcção à cidade. Por outro lado a paisagem envolvente do rio/mar e do horizonte da outra margem.


Verifiquei que o pontão é um prolongamento de terra, simultaneamente barreira e ponto de comunicação entre a terra e o rio. Esta duplicidade ambígua do lugar atribui-lhe características únicas. Este lugar “o pontão” que têm uma vida virada para o rio e para as suas margens e por consequência exterior a si próprio possui na minha perspectiva a potencialidade de com a minha intervenção se modificar tornando-se um local simultaneamente virado para o exterior e para o seu interior.


Com base no enunciado, a água, a sombra e o vento tornar-se-ão linguagens próprias da Arquitectura. Sendo o pontão um local de passagem e a água, a sombra e o vento elementos que variam, portanto em constante mutação defini para o meu quarto espaço o Movimento.
O espaço – movimento – será assim um espaço de articulação dos outros três, um elo de ligação. Os três espaços autónomos, que se correspondem entre si através de um sistema de circulação, criam um novo espaço.
Tenho a intenção de constituir três corpos que comunicam entre si através do quarto espaço – movimento – que estão virados para o interior. Só se terá contacto com o envolvente a partir destes 3 espaços.
Os espaços estarão configurados:
  • O da Sombra através do tratamento da luz que ajuda a criar diversos espaços dentro deste sem a necessidade de levantar paredes ou construir divisórias;
  • O do Vento estabelecerá uma relação altimétrica para possibilitar zonas de maior ou menor circulação de ar;
  • O da Água terá um contacto directo com a água, zonas de visualização do horizonte e das margens e deixa áreas do corpo aberto sobre o mar;
  • O do Movimento será o elemento aglutinador que enlaça e uniformiza toda a construção configurando o seu interior.

    «Anos mais tarde, Guadi e o doutor Santaló passeavam, como tinham por hábito aos domingos à tarde, pelo molhe…Via-se que Guadi andava triste e também preocupado…mas, como sempre que estava junto do mar, caminhava impetuosamente, sentia-se com renovada energia e deixava facilmente para trás o seu acompanhante.
    -Veja-se como o mar o entusiasma - disse-lhe o doutor Santaló ao chegarem ao quebra-mar.
    -É que para mim, o mar sintetiza as três dimensões: o céu reflectido na superfície e, debaixo, pode ver-se o fundo e o movimento.».
    Mario Lacruz in Guadí-um romance


Após ter sido feita uma leitura da área de intervenção, do pontão e seu envolvente e da compreensão do território surge a necessidade de estabelecer uma relação entre a cidade e o rio emergindo assim a ideia conceptual que reinterpreta o pontão integrando-o na zona urbana da cidade e por outro lado na paisagem envolvente do rio/mar e do horizonte da outra margem, unindo-os numa leitura de continuidade e complementaridade.


O meu conceito é uma relação de simbiose (de quase concubinato) entre as várias formas de habitar cada espaço, possibilitando estabelecer uma relação visual, sensorial mesmo táctil e olfactiva com cada espaço, permitindo que ao circular por cada espaço se aceda ao conceito último de mutabilidade, momento derradeiro do movimento.



A minha intervenção pretendia ser imponente preservando porém uma escala delicada, para a ocupação humana. Ao entrar no pontão, depois do impacto inicial com a água, a perspectiva suaviza-se, a pouco e pouco, à medida em que os elementos da sua estrutura, as circulações e os vários espaços se vão tornando visíveis, porque a arquitectura tem como seu destinatário o homem e como objectivo a satisfação das suas necessidades, desejos e emoções.A minha intervenção, em relação à cidade, oferece um lado urbano de “fachadas limpas” e em direcção ao rio/mar torna-se mais específica, numa busca espacial que se relaciona fortemente com a paisagem.




Pretendi estabelecer o diálogo entre duas estruturas espaciais fundamentais, o espaço do vento e o espaço do movimento, criando um plano que as interliga interiormente tornando-as uma só. Mas este plano também as individualiza, salientando que são duas realidades. É este elemento que se encarrega de enlaçar e unificar espacialmente os diferentes espaços. É um plano simultaneamente inicio do espaço da água e nasce da articulação de dois espaços (o do vento e o do movimento) e desagua no mar projectando-se nele, interagindo com ele. Quando em contacto directo com o mar na maré alta parece flutuar e quando a maré está vazia este espaço revela-se suspenso no pontão.
O lado interior do espaço da água onde desemboca o espaço da sombra suscita maior interesse do exterior através de um processo gradual de descoberta e articulação com os outros espaços até chegar à zona de visualização do horizonte e das margens e deixa áreas de corpo abertas sobre o mar.



O espaço da sombra interliga o espaço do vento com o da água. É um espaço que une dois níveis altimétricos, e é todo ele “dentro do pontão”, subterrâneo. A luz e a matéria qualificam este lugar, sugerindo percursos, apelando a múltiplas vivências que por si só promovem o encontros da cidade com o rio e com a outra margem. O tratamento da luz ajuda a criar diversos espaços sem necessidade de levantar paredes ou construir divisórias, portanto a luz converte-se em mais um elemento construtivo adicional. As perfurações no tecto permitem a incidência do sol no interior do pontão, criando durante o dia jogos contrastantes de luz e sombra.



O espaço do vento é um dos momentos cruciais da minha intervenção. É a “porta de entrada” da minha unidade espacial.Com este espaço pretendo gerar ambientes de recolhimento, a partir dos quais se possa ter várias percepções do exterior. No interior da estrutura existem diversos acontecimentos espaciais que se correspondem, entre si através de um sistema de circulação, criando novos acontecimentos, gerando assim uma estrutura repartida por vários níveis altimétricos para possibilitar zonas de maior e menos circulação de ar.



O espaço do movimento é constituído por um “esqueleto estrutural”, núcleo central, onde se ”lê” a presença da circulação que abraça os diferentes pisos. Este eixo de circulação, exterior ao seu núcleo, forma um pátio convertendo-se num “centro de luz” rodeado por esta estrutura. Este espaço é o outro primado da minha intervenção e a sua situação no términos do pontão estabelece a relação com o exterior e o interior do pontão e da minha intervenção permitindo que este pontão adquira novas características espaciais.


Trabalho realizado na disciplina de Arquitectura1, tema 6 na Faculdade de Arquitectura da Universidade Lusiada de Lisboa

1 comentário:

Baptista disse...

Muito bem está excelente senhora arq.! Gostava de ver os mais recentes.